A CIRURGIA DA ADVOCACIA

Com ar sério, composto, cabelo pelos ombros, declarava solenemente no seu 10º ano: "Quero ser cirurgião plástico". Não médico de qualquer especialidade, mas determinadamente cirurgião plástico. Hoje é advogado.

Veio à Fernão Mendes Pinto contar como cabulava, como saltitou de disciplina em disciplina e fez três 12º anos! Mas valeu a pena. Estudou Geologia e Física antes de seguir Direito. Hoje reconhece que o seu percurso errante o ensinou a gostar da sua profissão e que "fez sentido ter estudado determinadas obras numa fase em que isso não fazia sentido, para lhes dar valor mais tarde". Foi o que lhe sucedeu com Aparição e Os Maias. Cabuladas uma primeira vez, tornaram-se mais tarde obras de referência que lhe ensinaram a filosofia existencialista ou a mestria queirosiana, tão atual na crítica social, em As Farpas, exemplificou.

No aluno indisciplinado que então era o Tiago, já se anteviam as suas vertentes de comunicador e de jovem multifacetado. Após a declaração do seu amor à advocacia, afirmou: "Admito que a segunda profissão que se possa ter seja ser professor"; "Os professores fazem-nos percorrer um caminho pelos livros que mais tarde nos ajudam a ser aquilo que queremos ser"; "As bibliotecas são a nossa principal fonte de conhecimento" e "Os livros andam sempre connosco".