Homenagem dos professores aos professores

Na passada sexta-feira, dia 31 de maio, decorreu na Sala Polivalente mais um jantar de homenagem aos professores da nossa escola, aposentados entre 2008 e 2012. Das emoções vividas aqui fica o registo em imagens e em palavras.
 
 
 

Quando leciono o 9º ano, cujos conteúdos contam a fascinante história do século XX – o século do povo – costumo ler aos meus alunos um poema de Bertolt Brecht intitulado “Perguntas de um operário letrado”. Diz assim:
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis.
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída
quem outras tantas a reconstruiu?
Em que casas da Lima dourada moravam os seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China,
para onde foram os seus pedreiros?
A grande Roma está cheia de arcos de Triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
(…)
O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César venceu os Gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou, Felipe II chorou.
E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos 7 anos.
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinha os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias.
Quanta perguntas.
 
Este povo, laborioso e ignorado, subjacente a todo o poema de Brecht faz-me lembrar os professores.
Nos grandes centros de pesquisa mundiais, cientistas desvendam mistérios da Natureza e do Homem.
Quem realizou com eles as primeiras experiências? Com quem aprenderam o método científico?
Escritores e pensadores prendem-nos com as suas histórias, marcam-nos com as personagens que criam, emocionam-nos com os enredos que engendram, fazem-nos questionar o mundo e a vida.
Quem os ensinou a construir frases? Onde aprenderam as concordâncias verbais? Quem mostrou a cada um a beleza da Palavra e do Pensamento?
 
É de pequenas tarefas, árduas, persistentes mas nunca monótonas que a vida de um professor se faz. Passo a passo, num contacto diário com dezenas de adolescentes que vai vendo crescer em estatura e em sabedoria e a quem vai fornecendo ferramentas para que se torne mais autónomo, mais consciente das suas capacidades mais responsável. Não consegue sempre, mas também não tem pretensões a isso. Há tantos condicionalismos a interferir no seu trabalho!
Ao longo dos últimos anos a imagem do professor foi perdendo nitidez, denegrida não só pela classe dirigente como pela comunicação social com consequências dolorosas para o nosso dia-a-dia na sala de aula e nos contactos com os encarregados de educação. Ao mesmo tempo a escola passou a atender a uma multiplicidade de situações que ultrapassam em muito a sua função primordial. Ao professor se pede que seja psicólogo, assistente social, zelador de cuidados médicos, etc. etc.
E assim, solicitado por mil e uma tarefas, enredado no preenchimento de infindáveis relatórios, sobrecarregado com turmas imensas e com imensas turmas (mas eternamente acusado de ter muitas férias) o professor vê passar os anos e as gerações de alunos.
Mas creio que no fundo de cada um de nós e apesar dos protestos e de pontuais desânimos está este orgulho de ter uma das mais belas profissões do mundo.
Hoje estamos aqui a homenagear estes nossos colegas – professores.
Ao longo das suas carreiras ensinaram milhares de alunos, participaram na vida da escola, foram uma referência para os seus colegas. Deram a esta profissão e a esta casa muitos anos da sua vida. E nós estamos-lhes profundamente gratos. Gratos pelo seu testemunho, gratos pela seriedade que reconhecemos no seu trabalho, gratos por terem dignificado este modo de estar que é ser professor. Mas esta escola, que cada um de vós ajudou a construir, mantém vivos os vossos princípios de empenho, perseverança e honestidade. Porque devemos a cada um de vós continuar a fazer da Fernão uma escola de excelência.
Maria Isabel Rosendo