No dia 3 de dezembro, da parte da manhã, os alunos das turmas 1 e 2 do 10º ano visitaram o Instituto de Tecnologia Nuclear, em Sacavém. Para além de observarem o reator nuclear de investigação (em funcionamento desde 1961) os alunos conheceram duas aplicações da radioatividade: datação e química radiofarmacêutica.
 
 
A visita iniciou-se com uma sessão de esclarecimento sobre radioatividade, no auditório do Instituto.
A radioatividade, descoberta no séc. XIX, está associada a nomes como Röntgen,Becquerel e Marie Curie. Encontra-se presente na nossa vida diária: O ar que respiramos, a comida que ingerimos, as casas que habitamos, possuem isótopos radioativos, como o carbono-14 (formado através da ação dos raios cósmicos sobre o azoto), o potássio-40 (abundante nas bananas) ou o radão-222 (presente no granito). Essa radioatividade é bem tolerada pelos humanos e não deve ser temida. Estes têm, ao longo do tempo, aprendido a utilizar o fenómeno em seu benefício e a proteger-se da radiação ionizante em excesso. Foi mesmo apresentada a seguinte analogia: “Não é por recearmos o fogo que deixamos de utilizar o fogão.”
Os alunos conheceram alguns factos curiosos: As safiras são irradiadas para adquirirem um tom azulado e ganharem maior valor no mercado; a radiação alfa é travada por uma simples folha de papel, pelo que não se conseguirá detetar polónio-210 (fonte desta radiação) encerrado num envelope; a radiação gama pode atravessar o cérebro e erradicar tumores; a radiação de neutrões não é retida por uma parede de betão mas é absorvida pelo metal cádmio; em 10 viagens de avião Lisboa/Nova Iorque, por ficarmos mais expostos aos raios cósmicos, recebemos a dose anual normal de radiação; os mamíferos são os seres vivos para os quais é menor a dose letal de radiação, por serem os mais complexos.
Após a receção os alunos foram divididos em três grupos e visitaram rotativamente três setores do Instituto: reator nuclear, química radiofarmacêutica e laboratório de datação de fósseis.
No reator, com potência de apenas 1 megawatt (3 mil vezes menos do que um equipamento semelhante destinado à produção de energia elétrica), a fissão do urânio-235 origina neutrões que serão depois utilizados em investigação. Uma das aplicações é conseguir detetar elementos presentes numa amostra irradiada (como ar exalado ou líquenes previamente expostos ao ar poluído), mesmo em quantidades da ordem das partes por milhão. Os alunos apreciaram a piscina com 450 mil litros de água desmineralizada (fluido de arrefecimento), cujas características garantem uma proteção eficaz contra a radiação: nove metros de profundidade, ladeada por paredes de betão com dois metros de espessura. Apreciaram o tom azulado, desta vez não devido ao efeito Cherenkov, pois o reator estava àquela hora inativo, mas antes à reflexão preferencial da cor azul pela água (fenómeno reforçado pela profundidade).
A pressão interna na sala do reator é ligeiramente inferior à pressão atmosférica para que, em caso de acidente, a libertação de radiação para o exterior seja minimizada. O uso de bata própria e a lavagem das mãos à saída são comportamentos já rotineiros dos visitantes e técnicos. O medidor de radiação que foi entregue ao professor acompanhante não acusou qualquer variação.
Relativamente aos medicamentos com radionuclidos, geralmente de metais de transição e com tempo de semivida de poucas horas, salientou-se a sua vantagem em relação aos medicamentos tradicionais para os mesmos fins. É que a radiação que libertam incide apenas nas células a destruir, sem o efeito de massa dos químicos.  Foram apresentados os passos que vão desde a conceção à utilização clínica do radiofármaco. Parte da investigação faz-se à custa de culturas de células doadas por voluntários, o que diminui muito o número de animais utilizados nas experiências. Foi ainda abordada a utilização dos radionuclidos nos diagnósticos por imagem.
Finalmente, no laboratório de datação os alunos puderam entender como se datam amostras orgânicas com idade inferior a 50 mil anos. Por uma série de processos químicos e físicos o carbono da amostra (que pode vir do colagénio de um osso, por exemplo) é concentrado e surge no final, integrado em moléculas de benzeno. Este é sujeito a cintilação em meio líquido, processo em que as desintegrações dos isótopos de carbono-14 que contém (que deixaram de ser incorporados, no momento da morte) são contabilizadas num período de 24 horas. Quanto maior for a idade da amostra, menos carbono-14 conterá. A idade aproximada é depois determinada em anos BP (before present) sendo o ano de 1950 considerado o ano “presente”, devido às variações da concentração do dióxido de carbono atmosférico desde então.
O técnico responsável mostrou a mistura refrigerante de gelo seco e álcool, que facilita a separação dos produtos da combustão da amostra numa das fases do processo. Os alunos observaram a sublimação do dióxido de carbono e os fumos brancos então formados. Também foi muito apreciada a parte em que o técnico entornou azoto líquido no chão e este “desapareceu” de imediato, tendo-lhe sido pedido para repetir. Os alunos contemplaram ainda um tronco de árvore com 27 mil anos.
Acreditamos que esta visita teve impacto nas aprendizagens destes alunos e lhes abriu perspetivas a nível de carreiras profissionais futuras.
As professoras: Graça Lopes, Isabel Ramos e Isolina Silva
 
            