O Senhor Calvino

A janela
Uma das janelas de Calvino, a com melhor vista para a rua, era tapada por duas cortinas que, no meio, quando se juntavam, podiam ser abotoadas. Uma das cortinas, a do lado direito, tinha botões e a outra, as respectivas casas.
Calvino, para espreitar por essa janela, tinha primeiro de desabotoar os sete botões, um a um. Depois sim, afastava com as mãos as cortinas e podia olhar, observar o mundo. No fim, depois de ver, puxava as cortinas para a frente da janela, e fechava cada um dos botões. Era uma janela de abotoar. (...)
Daquela janela o mundo não era igual.
                                                                                               Gonçalo M. Tavares, in O Senhor Calvino
 http://images.google.com/imgres?imgurl=http://4.bp.blogspot.com/_MLgqwI2sdUM/R5YPum1ZNrI/AAAAAAAAACs/IExE_sPHa8U/s320/calvino.jpg&imgrefurl=http://goncalomtavares.blogspot.com/2008/01/o-senhor-calvino.html&usg=__WJ6xqPyVG24rPSqFbA5F9UsgrnQ=&h=320&w=224&sz=10&hl=pt-PT&start=4&um=1&itbs=1&tbnid=yW5ZgI90z0PR2M:&tbnh=118&tbnw=83&prev=/images%3Fq%3Do%2Bsenhor%2Bcalvino%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26rls%3Dcom.microsoft:pt:IE-SearchBox%26rlz%3D1I7ADRA_pt-PT%26tbs%3Disch:1
A colher
 
Para treinar os músculos da paciência, o senhor Calvino colocava uma colher de café, pequenina, ao lado de uma pá gigante, pá utilizada habitualmente em obras de engenharia. A seguir, impunha a si próprio um objectivo inegociável: um monte de terra (50 quilos de mundo) para ser transportado do ponto A para o ponto B – pontos colocados a 15 metros de distância um do outro.
(…) E Calvino utilizava a minúscula colher de café para executar a tarefa de transportar o monte de terra de um ponto para outro (…)
(…) Calvino sentia estar a aprender várias coisas grandes com uma pequenina colher.
                                                                                            Gonçalo M. Tavares, in O Senhor Calvino